Universo Desconstruído – Ficção científica feminista e brasileira

Universo Desconstruído é uma antologia de dez contos de ficção científica feminista, independente e com ebook gratuito, além de ter uma edição física lindona também disponível. A ideia do tema desses contos é interessante visto que, mesmo que o gênero ficção científica seja voltado para o futuro com seus robôs e viagens no tempo, o machismo nas histórias e nos eventos do tema ainda é insistente. Quantas vezes vimos homens viris salvando o mundo antes do almoço com uma companheira sensual ao lado? Eu, que leio pouco o gênero já vi muito. Até agora.

Mas não se engane achando que só porque é feminista é escrito somente por mulheres (temos alguns escritores homens) ou que todas as personagens são necessariamente femininas (apesar de que aqui temos mulheres cis, trans e robôs-mulheres). Portanto, o que qualifica a antologia como feminista é trazer questões do viés feminista para o gênero ficção científica. Tais como desconstrução dos estereótipos de gênero, de cor e de sexualidade.

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O “feminista” no subtítulo pode afastar muita gente, mas também pode agregar. Mesmo quem não gosta desse viés feminista (são muitos, né?) pode gostar, pois se tem aventura e futuros distópicos bem interessantes. Na sua maioria, os contos são nesses mundos futurísticos e distópicos onde os preconceitos, divisão de classes e desigualdade de gêneros são muito mais evidentes que hoje (acredite, é possível). Tem muito da sexualização e da falta de direitos da mulher sobre seu corpo, como no conto “Eu, incubadora” que traz reflexões sobre aborto, o papel da mulher e o futuro da tecnologia em forma de inteligência artificial; “Cidadela”, onde fala sobre mulheres estupradas e forçadas a ter os filhos dessa violência; “Meu nome é Karina” é um conto super sensível sobre uma mulher transexual à qual é oferecida uma forma de se reconciliar com a vida através de um arriscado jogo entre universos; além de um relacionamento competitivo que se torna abusivo (Projeto Áquila) e subserviência da mulher em relação ao homem, mesmo que em forma de robô (Quem sabe um dia, no futuro). Isso tudo sem deixar de lado a parte aventureira, forte, distópica e utópica da ficção científica.

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Fonte: Totranks

Me estranhei muito com os primeiros contos, os achei corrido e com um final brusco, daqueles que você não espera e a história acaba do nada. Meu estranhamento veio também por ser um gênero que não leio muito, li clássicos de George Orwell e Ray Radbury, mas nunca li Asimov ou Clarke. Mas aqui talvez não caiba essa comparação, talvez caiba alguma com obras escritas por mulheres ou declaradamente feministas, como Ursula K. Le Guin, Octavia Butler (primeira autora negra a ser reconhecida internacionalmente como autora de ficção científica) e Joana Russ. Prometo lê-las e trazer comparações mais a fundo.

No mais, ficou uma lição de que ficção pode ser não-machista e uma visão menos “mais-do-mesmo”, onde mulher é primeira pessoa ou, pelo menos, com a possibilidade de se tornar. A obra serve para mostrar que dá para fazer diferente.


Os autores dos livros são esses, caso você queira saber mais deles. Já lia alguns e outros passarei a seguir 🙂

 

Ah, já rolou segundo volume do livro e você pode encontrar grátis aqui também.

Um Comentário

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  2. minhassimpressoes.blogspot.com.br

    Oi Bia 🙂
    Baixei esse e-book há um tempão, mas ainda não o li. Confesso que tenho um pouco de dificuldade para iniciar e finalizar leituras digitais, mas continuo tentando, acho que só é umas questão de tempo para que eu me adapte.
    Venho acompanhando a Aline Valek e a Gabriela Ventura e tenho aprendido bastante sobre feminismo com elas.
    Abraços.

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